Feirinha de Pium
- Tópicos Esp.em Jornalismo
- 23 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de nov. de 2018
O perfil de uma feirante por acaso
Por: Laís Di Lauro e Isabela Maia
A HISTÓRIA DA FEIRA
A Feira de Pium, popularmente conhecida como "Feirinha de Pium" fica localizada no bairro de Pium, em Parnamirim. O diferencial dessa feira é que a sua localização encontra-se nas margens da principal rota de acesso ao litoral sul da capital potiguar. Por causa disso, a feira tornou-se parada obrigatória para os turistas que passam pelo local e admiram as barracas coloridas com grande variedade de frutas.
Não se sabe ao certo sobre quando ou como a feira iniciou-se. Entretanto, moradores mais antigos do Pium, como o senhor Antônio Oliveira, 76, afirma que a famosa feirinha está ali a pelo menos 33 anos.

FRUTAS, HISTÓRIAS E VIDAS
Por trás das ofertas da água de coco geladinha, do abacaxi doce e já descascado, do feijão-verde fresquinho e vários outros produtos, existem pessoas que estão ali todos os dias, das 5 horas da manhã às 22 horas da noite. Pessoas que trabalham de domingo a domingo, faça sol ou faça chuva. Pessoas que não tem feriado, férias e muito menos descanso.
A vida de feirante é dura e começa muito antes de abrir a barraca com os primeiros raios de sol, aos sons do canto dos galos. É preciso reabastecer os estoques de frutas constantemente, já que são produtos de curta durabilidade. O CEASA (Central de Abastecimento) de Natal fica a 20 quilômetros da Feira de Frutas de Pium, sendo uma viagem de aproximadamente meia hora de carro. E as dificuldades só começam aí. Dentro da feira, a concorrência nem sempre é leal. Além disso, a convivência em um ambiente de trabalho hostil.

A BARRACA DA LÚ
A história da Lu não é sobre uma feirante que se sente realizada com o seu trabalho e acorda todas as manhãs bem cedinho e com um sorriso no rosto, pronta para trabalhar duro e levar saúde em forma de frutas variadas aos clientes. É, ao contrário, uma história muito comum, pois é sobre uma mãe solteira que batalha diariamente para sustentar sua família, que chegou sem querer no emprego atual e que sonha em encontrar uma forma de sair dessa vida puxada que exige demais e cujo retorno é escasso.

Fazem apenas 4 anos que Luciana começou a trabalhar na feirinha de Pium, depois que sua mãe comprou uma banca para ela por dez mil reais. Antes disso, ela trabalhava como vendedora em uma loja de artesanato. A mudança de rotina foi considerável, pois Lu passou a ir ao Ceasa (no bairro de Lagoa Nova) três vezes por semana para reabastecer o estoque de frutas, além de precisar passar o dia inteiro na banca para vendê-las.
“Eu chegava de duas horas da manhã. Hoje é minha mãe quem vai, ela vai umas quatro, mas eu ia antes, que era pra pegar mercadoria boa. Quando chega mais tarde só tem as estragadas, que ninguém quis”, conta ela.
Lu se chateia ao admitir que muitas frutas e verduras se perdem, porque estragam ou porque roubam durante a noite. Essa afirmação pode parecer chocante, mas em feirinhas fixas a maioria das coisas fica na barraca a noite inteira, até porque os donos moram por perto e de manhã cedo já estarão de volta. Toda noite cada vendedor cobre sua barraca com lona e organiza as coisas na parte de dentro da melhor forma possível, mas Lu admite que pela quantidade de vegetais que cada um tem para vender, é difícil até de perceber quando as mercadorias são roubadas.
Essa contudo, não é a parte mais problemática para a feirante. Apesar do que pode parecer, o clima na Feirinha de Pium não é tão amigável. Luciana confidencia que já “saiu no braço” com a dona da barraca ao lado, por questões de clientela.
“O povo mal chega e ela já corre em cima, oferecendo água de coco e não sei mais o que. Não deixa a pessoa a vontade pra escolher onde quer comprar. Eu acho isso muito chato, se fosse comigo eu não voltaria no lugar, sabe?”.
Essa situação também causou brigas entre as funcionárias de ambas as feirantes e o clima entre as duas só não é pior porque pelo menos tudo se resolveu com as moças que trabalham na barraca vizinha.

A TORMENTA
Lu trabalha de domingo a domingo, começando logo cedo, entre cinco e seis da manhã e saindo “quando dá”. Ela conta que sua parte preferida do dia é a hora de dormir, pois é quando não precisa fazer absolutamente nada. Essa labuta diária esgota a mulher, que não consegue ter sequer um final de semana para cuidar de si mesma, para relaxar, para pensar em qualquer coisa que não seja trabalho. Mas é preciso que seja assim, pelo menos por enquanto.
A feirante é enfática ao afirmar que não pretende “de jeito nenhum” continuar nessa vida por muito mais tempo. Só o faz porque, no momento, está conseguindo sustentar sua filha, sua mãe e sua cachorra com o dinheiro recebido. No entanto ela já se sente saturada tanto do ambiente quanto do trabalho que exerce.
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