Gerações de feirantes
- Tópicos Esp.em Jornalismo
- 23 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de dez. de 2018
Por Bia Leão e Viviane Ferreira

Em 1964, no bairro de Cidade da Esperança começou a ser construído o primeiro conjunto habitacional de Natal, financiado pela Fundação de Habitação Popular (FUNDHAP). As casas eram destinadas a massa de migrantes que vinham do interior do estado para a capital.
Quatro anos mais tarde, em 1968, teve início a famosa feira da Cidade da Esperança, localizada na rua Bagé, em frente a linha do trem. Com cerca de 2km de extensão, a feira da Esperança é conhecida por sua grande variedade de produtos e serviços. Lá é possível encontrar de tudo, inclusive boas histórias como a do feirante Wilker Lima, entrevistado pela nossa equipe.
Wilker tem 34 anos e trabalha na feira desde os treze, “Desde pequeno ia pra feira com o meu avô e aos treze anos passei a tomar conta de uma barraca sozinho”, disse ele cheio de orgulho. Hoje esse posto passou para o filho dele, o pequeno William da Silva de 12 anos de idade, trabalha com o pai vendendo mamão e abacaxi na feira da Esperança, Rocas, Alecrim, Felipe Camarão e Planalto.

A rotina de feirante não é fácil, William conta que ele, seus pais e sua avó saem de casa no domingo às 3h da manhã para ir à feira da Esperança e arrumar toda a mercadoria nas bancas até às 5h. Lá, a feira começa às 5 horas da manhã e só termina a 1h da tarde. Quando questionamos se ele chega em casa em dia de feira e ainda vai brincar, ele respondeu “Não. Chego cansado, tomo banho e vou dormir porque amanhã tenho que sair cedo pra ir pra escola” disse ele. Segundo o pequeno, ele só trabalha na feira da esperança e a do alecrim que acontece todo sábado, porque são os dias em que ele não tem aula.
O trabalho infantil muitas vezes é a causa da evasão escolar, por isso resolvemos perguntar para o William do que ele mais gostava ir à escola ou a feira? e ele respondeu “dos dois, de ir pra escola e ir pra feira”. Somos interrompidos por um cliente que chega e William diz “Um é dois e três é cinco”, ele é um garoto comunicativo e cheio de brilho nos olhos, disse que o que mais gosta na feira é vender e não é que ele conseguiu vender o abacaxi mesmo! E ainda demonstra muita habilidade enquanto cortava o abacaxi.
VENDAS
Wilker e sua esposa Danielle trabalham há mais de 20 anos nas feiras, tem sete filhos e o sustento da família “da Silva Lima” vem todo delas. Wilker também é pedreiro, porém disse que há tempos não pega serviço porque prefere trabalhar somente na feira, por conta do dinheiro “Eu ganho mais do que um vereador no interior”, diz todo satisfeito.

Já Danielle vende bananas e alho em uma barraca separada da do marido e disse “quis ser feirante porque acho uma boa profissão hoje tenho casa própria, dá pra sobreviver, pagar as contas e ainda faço amizades”. Durante a semana a família trabalha em várias feiras de Natal e no final do mês eles contam que tiram uma renda média de R$ 3.500,00 a R$ 4.200,00. No entanto, Wilker desabafa que o apurado já foi melhor, a diminuição da clientela e o aumento da concorrência tem dificultado um pouco as vendas.
PROBLEMAS
Segundo a família, as tendas foram uma melhora porque assim não trabalham mais no sol, nem na chuva, no entanto estão precárias, com alguns buracos e quando chove muito acaba molhando tudo. Além disso, a segurança também é um problema, Danielle desabafou “ é só o que a gente quer, segurança na feira que não tem”.
FIM DA FEIRA
Ao término da feira, as barracas são desmontadas, todo o lixo é varrido e depois coletado pelos Garis e no início da noite de domingo a rua já encontra-se toda limpa e liberada para o tráfego de veículos.
Veja o vídeo de outra historia sobre a tradi;ao seu Luciano 74 anos, que trabalha na feira da Cidade da Esperança há 25 anos.
VÍDEO
Com 74 anos Luciano trabalha ao lado de sua esposa Lourdes. Eles criaram os filhos nas tradicionais feiras livres de Natal.
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